terça-feira, 12 de maio de 2009

O Hermeneuta e seu Desobjeto

O menino que era esquerdo viu no meio do quintal um pente. O pente estava próximo de não ser mais um pente. Estava mais perto de ser uma folha dentada. Dentada um tanto que já se havia incluído no chão que nem uma pedra, um caramujo, um sapo. Era alguma coisa nova o pente. O chão teria comido logo um pouco de seus dentes. Camadas de areia e formigas roeram seu organismo. Se é que um pente tem organismo. O fato é que o pente estava sem costela (...) perdera sua personalidade. Estava encostado ás raízes de uma árvore e não servia mais nem pra pentear macaco. O menino que era esquerdo e tinha cacoete pra poeta, justamente ele enxergava o pente naquele estado terminal. E o menino deu pra imaginar que o pente, naquele estado, já estaria incorporado á natureza como um rio, um osso, um lagarto. Eu acho que as árvores colaboravam na solidão daquele pente.

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